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domingo, 29 de junho de 2008

Antes dos sete

Noite. Eu, um ano e meio, e a minha mãe acabamos de entrar no apartamento novo e estamos vendo o meu pai levar a minha cama para dentro.

Noite. Casa da minha avó. Estou me deitando. Na cama, enfileiro todos os meus brinquedos semelhantes a bonecas ou animais: cabeça no travesseiro, cobertos com o edredom. Quase não sobra espaço para mim, fico me apertando contra a parede.

Noite, luz artificial. A minha mãe me segura firmemente, enquanto um médico se aproxima de mim, em câmera lenta, com uma pinça de aparência hostil. Enfiei um botão no nariz, uma proeza e tanto.

Sozinha em casa. Madrugada, televisão. Profecia, 1976.

O início da minha infância passou-se nas trevas.

Eu e a minha mãe, na escada do prédio, entre os andares. Há uma janela atrás de nos. No andar inferior, junto às portas, o meu avô paterno está estatelado no chão, médicos de branco em torno dele. Não me recordo de ter comparecido ao enterro.

Achei um rabanete na moita “do outro lado do prédio”. Comi.

Na escolinha. Acusada injustamente de ter roubado e comido o chocolate de alguém. Fundamento da acusação: língua amarelada.

Na escolinha, com uma amiga, no meio a trave do gol. Eu jogo a bola para ela, e a bola bate na trave, dá um pulo, bate novamente.

Na cozinha, num banquinho do lado da janela. A minha mãe está cozinhando. Eu estou “bordando” com fios coloridos, a minha mãe me elogia.

Na escolinha, com a mesma amiga. Coletamos a seiva de pinheiro e mascamos como se fosse chiclete.

Na escolinha, havia uma hora reservada para dormir. Camas de molas. No momento em que a “tia” fechava a porta da sala, começávamos a pular alucinadamente. Uma vez, eu estava pulando de costas para a porta. Aos poucos, todo mundo foi parando de pular. Eu continuei, enquanto tentava convencer todos a voltar à ocupação tão agradável. Só uns cinco minutos depois tive a idéia de me virar.

Na escolinha, brincando de cabeleireiro. Molhei os cabelos para fixar o penteado. Incompreensão e escárnio geral.

No acampamento, caí do caís. Cinco pessoas, é raso ali, menina! Quase me afoguei.

Entre seis e sete anos, outra mudança. Eu finjo que sou um gato em baixo da escrivaninha nova, enquanto a minha mãe e a minha avó arrumam o quarto.

Para quem não notou, o meu pai era um tanto ausente.

Mas ele me ensinava a dançar jazz.

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